Information, interruption, interception

- Juro que se seus fluídos tocarem em mim, você morre. - foi tudo o que eu mencionei naquela viagem de trem até Hargeon.

A minha vontade era de lhe arrancar os órgãos internos. Estava visto; ele devia ser estúpido. Porque não avisou o Sin que não suportava transportes? Poupava-nos um episódio triste e nojento de enjoo e constantes vômitos à janela do trem, enquanto a viagem se dava. Felizmente, ele parecera entender que eu não estava a brincar quando lhe atirei a minha ameaça e manteve o almoço dele longe de mim. Posso apenas descrever que a viagem fora longa e tediosa, sem um único livro ali para eu poder ler e me distrair no meio daqueles dois seres, embora os meus pensamentos se encontrassem ocupados com coisas do passado - coisas que me iriam perseguir a vida toda, e que compunham parte dos objetivos de vida que tinha. Ainda assim, como sempre fiz, não deixei transparecer quaisquer sentimentos em mim, mantendo a minha postura mal-humorada e fria a todos os momentos.

Quando finalmente o inferno acabou, deixei o trabalho de retirar o dragãozinho enjoado do trem nas mãos de Akua - e tanto me fazia se ela conseguia ou não. Comecei a fazer o caminho mais à frente possível, e tinha algum avanço dos outros dois, não tanto assim, apenas o suficiente para me manter sozinha e poder pensar sem escutar ruidinhos e barulhinhos que eles pudessem fazer - e não queria saber se Akua continuava o jogo de sedução e provocação dela.

Enfiei as minhas mãos nos bolsos, fechei os olhos e, enquanto caminhava, a imagem mental ilustrou-se na escuridão do meu mundo. Pensava novamente naquele homem, e as perguntas que eu fiz durante todos estes anos que se passaram desde a partida dele, voltaram à minha mente. Quem ele era? O que queria? Porque me ensinou a usar esta magia? Porque foi embora? Eu tentava encontrar alguma coisa que me respondesse, algum pequeno detalhe que eu tenha perdido durante a minha vida toda, mas nada me surgia, nada que pudesse responder a esse pequeno fato, nada que eu pudesse usar.

Subitamente, senti um peso prender-se à volta da minha perna e o meu coração disparou - poderia ser um ataque inimigo. Os meus olhos azuis rapidamente fitaram o objeto que se tinha prendido a mim e a primeira coisa que notei foram cabelos. Cabelos brancos e compridos... Eu ia matá-lo naquele dia, estava quase certo - e eu que estava a tentar não fazer isso. Com uma cara terrivelmente enervada, eu retirei as mãos dos bolsos enquanto fechava os punhos com muita força e os erguia no ar.

- A QUEM É QUE ESTÁ A CHAMAR IRMÃ, MALDITO?! - movimentei a perna ferozmente, a ideia era chutá-lo para longe. - VOCÊ É SUICIDA OU FAZ-SE?! SE QUISER MORRER, APENAS DIGA DE UMA VEZ QUE EU RESOLVO ESSE SEU PROBLEMA!

E se aquele chute o acertasse? Ah, eu acho que as costelas dele iriam queixar-se, não, gritar bastante alto, e tenho a certeza que ele poderia rolar pelo chão uns bons centímetros, se é que não metros. Ele começava a passar das marcas, e não me importava realmente o motivo pela qual ele fizera isso, eu iria estrangulá-lo mesmo antes de ele conseguir se explicar. Mas depois, eu olhei em volta, e lembrei-me que não estávamos em Magnolia, lembrei-me que estávamos em missão, e que possíveis inimigos andavam à espreita. A primeira coisa que me lembrei: o desenho negro no meu braço esquerdo, que me identificava como uma maga da Fairy Tail. Impulsivamente meti a mão direita sobre ele e comecei a observar os arredores - não tinha absolutamente nada ali que me pudesse ajudar a esconder o símbolo, e também não tinha certezas de que alguém tivesse ou não visto ainda, sem contar que eu estava de guarda baixa por me perder em pensamentos. Era vergonhoso e irritante admitir isso - mas definitivamente não iria pedir desculpa àquela máquina de vômitos.

Imprudente, mas desde quando é que eu me preocupo em passar despercebida? Nunca foi o meu estilo, nunca será, e eu nunca tive jeito para isso... Aposto que talvez eles me culpassem pelo fato de provavelmente termos sido vistos, mas eu não estava preocupada com o apontar de alguns dedos - afinal, eu nunca me preocupei com o julgamento das outras pessoas sobre mim. Sussurrando, o pequeno dragão indicou-nos um caminho, e eu era obrigada a persegui-lo com as palavras de Sin no interior da minha cabeça, acerca de ser ele o Líder daquela expedição. Quem diria, uma pessoa como eu a ser ordenada por um pirralho como aquele garoto à minha frente, tão concentrado nas suas ações como um cachorro a seguir um rastro de comida.

Mas tinha de admitir, ele até que era minimamente inteligente, e a concentração que ele mantinha, excluindo o nervosismo serviria para um melhor pensar, e talvez tenha sido isso que o permitira chegar a conclusões simples - mas úteis - do caminho a tomar.. A guiar-nos para fora da cidade, evitaria possíveis baixas de inocentes desnecessariamente, assim como poderia informar-nos acerca da quantidade de perseguidores e até mostrar-nos as habilidades rastreadoras básicas que estes possuiriam. No entanto, Akua parecia convencida de que o Dragon Slayer se encontrava nervoso, ou talvez isso se deva ao fato de ela própria estar nervosa - ou estaria eu equivocada nessa avaliação? Mas é um problema ter alguém numa equipa nervoso, tendo em conta que poderia contagiar outros igualmente. Uma coisa eu sabia com toda a certeza: eu não ficaria contagiada nem que o inimigo fosse mil vezes superior.

Kurama pedira preparação, avisara-nos de uma entrada na floresta e para se evitar combate direto. Embora eu soubesse - e acredito que os outros dois também - que isso seria praticamente impossível agora. Os perseguidores deveriam já ter tomado um certo avanço e se preparado para nos intercetar a qualquer momento. No entanto, eu compreendia os movimentos dele, ao contrário de Akua que parecia ter entrado numa fase de negação a tudo o que ele fazia.

- Idiota. O dragãozinho está correto, pense com clareza! Ele possui um faro superior ao nosso, e é impossível a implantação de armadilhas sem deixar o cheiro da pessoa que a criou, logo tornar-se-ia fácil para ele localizar os cheiros no interior da floresta sem se confundir com cheiros animais. - expliquei-lhe da melhor forma que pude no momento, embora o tom de voz que usara, ainda que calmo, demonstrasse uma enorme vontade de a esganar naquele momento por causa dessa ingenuidade. Além disso, podemos nós montar armadilhas, se pensarmos na possibilidade do inimigo não ter as mesmas capacidades rastreadoras que nós possuímos.

Os meus olhos azuis fitaram um braço a erguer-se no ar e poisar-se num ombro de Akua. As palavras seguintes fizeram-me refletir sobre as intenções de Kurama e o olhar da garota de cabelos azuis deu-me a entender que também ela tinha pensado o mesmo que eu. As minhas sobrancelhas desceram, voltando-se para um único ponto no centro do meu rosto, levantando algumas rugas e eu inspirei fundo para evitar um ataque de fúria para com a garota.

- Qual é o problema? Ele é um garoto crescido, não? Sabe sobreviver caso tenhamos de impedir os inimigos de o alcançar! - comentei, visivelmente rabugenta. - Você não estava realmente esperando que nós todos fossemos juntos para Lamia Scale, certo? Isso é burrice demais! Kurama, tenho a certeza que brevemente seremos intercetados, quando vir uma abertura, parta para Lamia Scale. E tenha cuidado, não sabemos se não haverão mais inimigos à frente.

E eu não poderia estar mais certa quando disse que seriamos intercetados... Uma voz que me era claramente estranha invadiu os meus ouvidos e deixou-me ainda mais mal-humorada do que já me encontrava, no entanto, uma ansiedade - esta bastante nostálgica - invadiu-me o corpo começando a preenchê-lo com a adrenalina que me fazia falta há já um bom tempo. Tomando uma expressão fechada, deitei um olhar ao primeiro perseguidor que me apareceu à frente, desafiando-o sem palavras, até que ouvi uma segunda voz, esta mais grave que a outra, e cujo dono se tornara surpreendentemente irritante a meu ver - não apenas pela forma de falar -, mas ele no seu todo. Alternei as pupilas entre as duas pessoas inimigas e esbocei um sorriso sinceramente feliz e, ao mesmo tempo, ansioso e foi ai que eu percebera... Eu estava à espera daquele momento desde que a missão me fora dada, estava à espera de um confronto com inimigos de poderes desconhecidos. As minhas pernas afastaram-se uma da outra ligeiramente enquanto se dobravam e eu ergui os dois braços um pouco acima da cintura. A mão direita ficou de punho fechado e a outra, de palma aberta e apontada para o céu, concentrou a minha magia criando uma aura negra e sombria. Fez uma pequenina explosão para os lados quando fechei o punho, fazendo a aura desaparecer.

- Torne isto interessante! - ditei entre um sorriso sádico, olhando para a garota inimiga, deixando claro que estava a ignorar o homem que chegara após ela, embora me mantivesse alerta também para ele.

Bastou-me ouvir as palavras de despedida de Kurama, para saber que a minha diversão iria começar. Deitei um último olhar às minhas costas, para me certificar que o pirralho já se começara a afastar - mais como uma medida de segurança contra atrapalhos de lutas. Movi-me para o lado, de modo a tapar mais o caminho por detrás de mim, e também para deixar uma mensagem clara ao inimigo: eles não passariam por mim tão facilmente, nem pretendia deixá-los atingir o Dragon Slayer.

- Eu espero que não, pirralho. - respondi-lhe simplesmente, com um sorriso sádico.

Comecei a preparar-me mentalmente. Os pensamentos fluiam como água num rio, procurando adquirir toda e qualquer informação que me fosse útil para a batalha que se seguia. Eu não conhecia os poderes dos oponentes, mas eles também não conheciam os meus. Várias hipóteses de ataques surgiram-me na mente, e até me questionava se deveria atacar primeiro, uma vez que isso poder-me-ia trazer desagrados ou conquistas. Mas antes que eu pudesse tomar uma decisão definitiva, notei uma movimentação por parte da mulher absurdamente alta que, por sua vez, parecia ter escolhido o ataque. Um encantamento era proferido sem pausas com uma concentração digna da usuária de invocações - que apesar de irritante, devia admitir, não era de todo má.

Inalei o ar puro e saltitei uma única vez para me colocar lado a lado com ela. Não estava com grande vontade de correr pelo terreno para fugir ao que antecede a invocação: grandes ondas de pó que só serviam para atrapalhar a visão e ventos de todo o lado... Ah, esqueci-me de referir os detritos e pedras a voarem como loucas para todo o lado, obrigando-me a erguer os braços à frente da cara para evitar irritação ocular. O meu sorriso desapareceu e os meus olhos semicerraram-se enquanto enviavam um olhar de desagrado a Akua que acabara de mencionar alguma coisa antes de saltar para cima do bicho de estimação dela.

- Sinceramente, Akua, quer ficar com a brincadeira só para você? - resmunguei. - Não é justo. Eu quero aquela, a aura demoniaca que senti vindo dela interessou-me...

De dedos dobrados, à exceção do indicador, apontei para a garota que surgira em primeiro lugar, das sombras. A partir dai, fiquei muda, e quando eu digo que fiquei muda quer dizer que deixei de falar. E eu deixar de falar quer dizer que eu estava concentrada e séria - realmente séria.

- "Muito bem... Não conheço as habilidades dela, mas aquela aura não engana ninguém, a magia dela é obscura..." - raciocinei enquanto me afastava da invocação de Akua.

Não queria ser atrapalhada por ninguém, esperava apenas que ela, quem quer que fosse, também me escolhesse como adversária e se não o fizesse... Eu própria a obrigaria a aceitar-me, e tenho a certeza que ela me iria aceitar se se encontrasse em risco de vida. Observei-a brevemente, por meros segundos, perguntava-me que maravilhas ela me poderia mostrar.

- "Vamos testá-la..."

Ergui o braço direito, a mão aberta, a palma a apontar para o lado esquerdo. Elevei o braço esquerdo simultaneamente, com a mão fechada à exceção de dois dedos - o indicador e o médio - que se encontravam esticados e unidos, e apontei-os para a palma da mão direita. Separei os dedos então, um para cima e outro para baixo, abrindo-os numa forma de ''V'', o que ativaria um feitiço do tipo aprisionamento, que envolveria a mulher numa bolha, restringindo-lhe os movimentos por completo, deixando-a à minha mercê.

-... - quase toda a minha atenção estava voltada para ela. Quase toda porque também tinha de manter olho no outro ser que ali se encontrava, e ver se outros inimigos se aproximariam ou não.